Sinergismo Vs. Monergismo na Teologia Cristã: uma análise comparativa

A teologia cristã é uma disciplina vasta e complexa, repleta de debates e
divergências doutrinárias ao longo dos séculos. Um desses debates centrais diz
respeito à natureza da salvação e à participação humana nesse processo. Duas
correntes teológicas que se destacam nesse contexto são o sinergismo e o
monergismo. Este artigo tem como objetivo analisar e contrapor essas duas
perspectivas, destacando suas principais interpretações dos textos bíblicos e as
visões de autores notáveis.

Sinergismo: A Cooperação Humana na Salvação
O sinergismo é uma corrente teológica que enfatiza a cooperação ativa do ser
humano na obra da salvação. Segundo essa visão, a salvação é resultado de
uma parceria entre Deus e o homem, onde ambos desempenham papéis
cruciais. Jacobus Arminius, um dos principais defensores do sinergismo,
argumentava que Deus concedeu aos seres humanos o livre arbítrio e que a
salvação depende da resposta voluntária do indivíduo à graça divina.
Em sua obra “Disputas Públicas” (1600-1603), Arminius afirmava: “A graça de
Deus precede todas as boas ações do homem, mas não impede a resistência ao
pecado. O ser humano tem a capacidade de aceitar ou rejeitar essa graça.”

Interpretação dos Textos Bíblicos pelos Sinergistas
Filipenses 2:12-13: O apóstolo Paulo escreve: “Portanto, meus amados, assim
como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais
agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor;
porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a
sua boa vontade.” Para os sinergistas, essa passagem indica claramente a
cooperação entre o desejo humano de obedecer e a ação de Deus na obra da
salvação.
João 1:12: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus.” Segundo John Wesley, um destacado sinergista, essa
passagem destaca a importância da escolha humana de receber a Cristo como
um elemento essencial na salvação.

Monergismo: A Soberania Absoluta de Deus na Salvação
O monergismo é uma perspectiva teológica que enfatiza a soberania absoluta
de Deus na obra da salvação. De acordo com essa visão, a salvação é
inteiramente obra de Deus, e os seres humanos não contribuem de forma
alguma para sua própria salvação. João Calvino, um proeminente expoente do
monergismo, ensinou a doutrina da eleição incondicional, que sustenta que Deus
escolheu de forma soberana quem será salvo.
Em sua obra “Institutas da Religião Cristã” (1536), Calvino declarou: “Deus não
nos escolheu por mérito, mas por Seu soberano propósito. Nossa salvação é
inteiramente obra d’Ele.”

Interpretação dos Textos Bíblicos pelos Monergistas
Efésios 2:8-9: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de
vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” Os monergistas
argumentam que essa passagem enfatiza que a salvação é um dom divino
incondicional, e não algo que os seres humanos possam conquistar por seus
próprios esforços.
Romanos 9:16: “Assim, pois, não depende do que quer, nem do que corre, mas
de Deus que usa de misericórdia.” Para os monergistas, essa passagem
confirma a soberania divina na escolha daqueles que serão salvos,
independentemente das ações humanas.
Além dos defensores já citados, Agostinho de Hipona, um influente bispo do
século IV, é um autor notável no contexto do monergismo. Em sua obra
“Confissões” (397-398), Agostinho explorou profundamente a soberania de Deus
na salvação e a depravação total da natureza humana.

Em resumo, o sinergismo e o monergismo representam duas abordagens
distintas para entender a natureza da salvação na teologia cristã. Enquanto o
sinergismo enfatiza a cooperação humana, o monergismo destaca a soberania
divina. Ambas as perspectivas encontram apoio em diferentes interpretações
dos textos bíblicos e têm sido defendidas por teólogos proeminentes ao longo da
história da igreja. O debate entre essas duas correntes continua a ser uma
questão central na teologia cristã, desafiando os crentes a considerar
profundamente a relação entre a graça divina e a responsabilidade humana na
busca da salvação